Esta é uma história sem fins lucrativos criada de fã para fã. Todos os personagens relacionados ao universo Pokémon citados no texto são marcas registradas da Nintendo. Saiba mais
Por Evandro Xoxim
Sob a fraca luz da lua, o vento soprava em leves brisas. De longe, parecia ser possível ver um homem de frente para uma fogueira. Mas o que parecia ser um homem era na verdade um adolescente – e a fogueira, um Pokémon do tipo fogo.
O jovem mantinha-se em pé com os punhos cerrados. Sua postura e o suor frio que escorria por sua testa tornava evidente que a situação em que a dupla se encontrava era tensa e apreensiva. O Pokémon de pelagem incandescente e luminosa olhava atentamente em direção às árvores próximas dali. Eram as primeiras da floresta em que iriam adentrar ao amanhecer. O adolescente buscou o pouco de coragem que parecia existir naquela situação e deixou algumas palavras fluírem como um sussurro por sua boca:
– Você também ouviu, Flareon?
O Pokémon não emitiu nenhum som, mas assentiu com a cabeça sem que os olhos perdessem o foco da paisagem escura da floresta, onde o luar não penetrava.
Nos pensamentos do garoto ele continuava perguntando a si mesmo o porquê de ter ido acampar logo na entrada da floresta. Não bastava aquele lugar ser assombrado por espíritos, ele ainda tinha que provar sua bravura para si mesmo e viver aquela situação? Ele nunca acreditou em fantasmas, mas também nunca duvidou. Entretanto, pela primeira vez em toda a sua glória de dezesseis anos, os fantasmas realmente o estavam deixando com medo. Isto é, se é que aquele barulho tinha sido mesmo um fantasma.
Após alguns segundos perdido em sua própria mente, o adolescente ouvira outro som. Dois, na verdade. O primeiro era do chacoalhar de folhas de uma das árvores. O outro era um rosnado de seu companheiro Flareon, que estava numa posição tensa, preparando para atacar qualquer coisa que ousasse surpreender o treinador naquela situação.
– Flareon, fique preparado para uma batalha corpo a corpo. Não podemos usar o Lança-chamas, pois corremos o risco de acabar incendiando a floresta. Vamos esperar mais um pouco, se ele não nos atacar, vamos fugir daqui.
A primeira observação comprovava que, apesar de ser um adolescente, aquele treinador era hábil e já possuía alguma experiência na jornada. Mais alguns segundos se passaram e desta vez algo se revelou. Uma pequena bola luminosa avançava na direção do Flareon e do treinador. O sangue do garoto gelou instantaneamente e ele ficou paralisado. A bola de energia avançava lentamente. Flareon rosnou mais alto, alertando ao espírito para que não se aproximasse do treinador. Todavia, a surpresa de Flareon se fez no momento seguinte, quando mais e mais bolas luminosas semelhantes à primeira apareceram repentinamente.
Num estalar de dedos, o treinador e seu Pokémon estavam cercados pelas esferas luminosas – os espíritos de treinadores e Pokémon que um dia morreram naquela floresta amaldiçoada. O coração do garoto palpitou mais forte, o suor gélido descia em bicas, a pele havia se tornado tão branca e pálida como se o próprio treinador fosse um fantasma. Num rápido lampejo, e numa lembrança tão vívida quanto o presente, o adolescente recordou dos relatos de uma velha senhora que havia alertado sobre os perigos da floresta. Ela havia conversado com ele cerca de uma ou duas horas atrás, quando o jovem havia perguntado por informações sobre a cidade que ficava a algumas horas dali, atravessando a floresta:
– Você deve tomar cuidado, garoto – a voz da senhora era rouca, enquanto sua entonação era pausada. – Existem diversos relatos sobre assombrações na floresta mais ao norte. Nem mesmo um membro da Elite dos Quatro ousaria adentrar aquela floresta à noite. Dizem que todos que entram lá nunca voltam para contar a história. Na verdade, pensando agora, houve apenas um treinador que entrou na floresta em uma noite de lua cheia e retornou à cidade para contar sua história. Ele voltou para o vilarejo aos berros, em plena madrugada, dizendo que havia visto vários espíritos. Eles tinham o formato de pequenas bolas de luz e o rodearam tentando devorar sua pobre alma. Felizmente, ele conseguiu retornar são e salvo. No dia seguinte, quando amanheceu, alguns homens do nosso vilarejo foram até a floresta para investigar o que tinha acontecido. Eles escutaram vários barulhos estranhos e árvores que se mexiam mesmo sem o vento. Dizem que um treinador e seus Pokémon faleceram naquela floresta, mas que o espírito dele e de seus Pokémon ainda continuam lá, tentando achar a saída para prosseguirem com a jornada.
– Por que eu não dei ouvidos a ela? – o treinador questionou a si mesmo. Mas ele sabia que era tarde demais para se indagar sobre qualquer coisa, já que ele e seu Pokémon estavam cercados pelas bolas luminosas que se aproximavam cada vez mais.
– Muito bem, Flareon! Não vamos ficar parados. Se eles querem nossas almas, terão que lutar para consegui-las. Use o Ataque Rápido!
Flareon deu um salto veloz com suas panturrilhas. O impulso, aliado a todo o peso do seu corpo, foi na direção de uma das bolas de luz – mas, da mesma forma que nenhum soco ou chute humano poderia tocar um fantasma, foi assim também com o seu golpe. Flareon passou pela bola de luz como se a mesma não existisse e pousou logo depois, irritado e ao mesmo tempo assustado por seu ataque não ter surtido efeito algum.
Ainda assim, o ataque não fora totalmente em vão. Quando Flareon atravessou o espírito, o treinador pôde enxergar um corpo branco. Na verdade, parecia uma vela com olhos. Não era tão assustador como de início – na verdade, naqueles décimos de segundo o garoto vira algo que se parecia com um… Pokémon bonitinho. Com isso em mente, o jovem remexeu seus bolsos e, com um sorriso no rosto, sacou um objeto quadrado e vermelho. Uma Pokédex.
– Eu deveria ter pensando nisso antes! – falou para si mesmo. Estendeu sua mão com a Pokedéx e a mesma não tardou em revelar a forma que o garoto havia visto outrora:
– Litwick. Litwick é um pequeno Pokémon vela com uma chama roxa no topo de sua cabeça, que é alimentada pela energia da vida que ele absorve. Litwick é um Pokémon do tipo Fantasma e do tipo Fogo que orienta as pessoas e Pokémon ao seu redor, iluminando áreas escuras. Entretanto, ele apenas finge ser um guia enquanto suga a vida qualquer um que o segue.
No momento em que a Pokédex emitia sua voz robótica, o treinador começou a ficar tonto. Afinal, ele estava rodeado por tantos Litwicks que estes sugavam sua energia vital. Junte-se a isso o breve tempo em que houve o combate contra eles e o pobre treinador parecia estar cada vez mais esgotado.
– Dusknoir, use a Bola de Sombras! – alguém disse subitamente.
A esfera púrpura e preta atingiu o Litwick mais próximo do treinador em apuros, fazendo com que o alvo fosse nocauteado e ficasse com os olhos girando – enquanto os demais Litwick fugiam novamente para dentro da floresta.
Recobrando seu estado normal, o treinador olhou na direção de onde a voz havia surgido. A silhueta de sombras começou a se aproximar e, quanto mais próxima, mais traços eram perceptíveis. Tratava-se de uma garota morena que usava um top e uma larga saia, que mais parecia uma toalha amarrada na cintura, de cor azul e com detalhes em branco. No cabelo curto e castanho ela usava duas flores cor de rosa que chamavam a atenção de quem as via. Ela se aproximou do treinador e disse com um tom confiante:
– Tem que ter cuidado, garoto. Os Pokémon do tipo Fantasma não são para qualquer um. Bom… de qualquer forma, agora você está a salvo – dizia ela num tom bem-humorado e determinado, como se tivesse uma missão a cumprir. – Com licença, mas eu tenho que capturar um deles. Pokébola, vai!
A pokébola foi arremessada e o raio vermelho foi direcionado ao pobre Litwick que havia sido nocauteado. Em três balançares, a pokébola se aquietou, sinalizando que o Pokémon havia sido capturado. A garota caminhou até a pokébola, juntando-a do chão e guardando-a.
– Quem é você? O que está fazendo aqui? – perguntou o treinador num tom arrastado, enquanto sua mão permanecia na cabeça, esfregando-a, numa tentativa de acalmar o cérebro e findar a tontura.
– Meu nome é Phoebe. Sou membro da Elite dos Quatro da região de Hoenn e vim aqui para capturar um novo Pokémon do tipo Fantasma. No vilarejo me informaram que essa floresta era assombrada, então resolvi conferir por mim mesmo que tipos de Pokémon ou fantasmas estavam nesse local – explicou a garota, que falava com um sorriso satisfeito no rosto, como se tivesse cumprido sua missão. – E você, quem é?
– Meu nome é Gabriel. Estou numa jornada para ser o melhor treinador de Pokémon do tipo Fogo. Preciso chegar na cidade depois dessa floresta e, para poupar tempo, resolvi acampar aqui na entrada da mata – disse ele num tom natural, já sem sentir os efeitos da tontura ou dor de cabeça.
– Bom, Gabriel, já cumpri meu objetivo aqui e tenho que voltar para o meu treinamento em Mt. Pyre. Desejo sorte em sua jornada. Quem sabe algum dia possamos batalhar e você me derrote, assim como aconteceu contra o meu último desafiante?
Phoebe e Gabriel apertaram as mãos, cada um com um sorriso no rosto.
Atrás de Gabriel, outro Litwick surgiu e chamou a atenção do treinador. O Pokémon havia retornado de dentro da floresta escura fazendo sinais e emitindo sons, tentando comunicar alguma coisa.
– O que você está tentando me dizer? – questionou o jovem, desconfiado.
– Ele quer seguir com você em sua jornada – intrometeu-se Phoebe. – Ele disse que escutou nossa conversa e o seu desejo de se tornar o maior treinador de Pokémon do tipo Fogo.
– Você fala com fantasmas? – perguntou Gabriel, surpreso.
– Sim. Foi um árduo treinamento e também um pouco de dom… ou você acha que qualquer um poderia estar na Elite dos Quatro? – respondeu Phoebe, piscando um dos olhos.
– Tem razão. Nesse caso, obrigado por ser minha tradutora – agradeceu ele, antes que Phoebe virasse de costas e desaparecesse em meio às sombras da noite.
Gabriel sacou uma pokébola vazia que, de maneira sutil, atingiu Litwick e o capturou sem que houvesse nem mesmo as três vibrações usuais. O jovem encarou seu companheiro Flareon e soube que sua jornada seria muito mais interessante dali para a frente – afinal, a cada dia que passava, ele fazia mais e mais amigos. Além disso, a partir daquele momento Gabriel sentia que tinha duas promessas a cumprir: ser o melhor treinador de Pokémon do tipo Fogo e, agora, algum dia derrotar Phoebe.
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